Antecipar receitas de 2012, comprometendo futuras gestões, por quê?

Marcelo Teixeira *

Mesmo com tanta euforia pelos recentes títulos - em especial da Libertadores -, consequência de um trabalho de longo prazo iniciado e mantido durante a nossa Administração, não posso deixar de manifestar minha preocupação e silenciar diante dos associados e de minha amada torcida santista. Principalmente agora que a atual direção pede antecipação de receitas da ordem de R$ 30 milhões para cobrir gastos!

Tenho observado que a diretoria do Santos FC se vangloria por ter arrecadado R$116.508 milhões em 2010, comparando com a receita de 2009, quando o clube obteve receita de R$70.377 milhões. Estamparam com matérias pagas em diversos veículos de comunicação o alcance desta marca. Destaco que não vejo nenhum mérito administrativo ou qualquer estratégia mágica de grandes financeiros por elevarem estas cifras, pois foram obtidas graças à estrutura e às revelações deixadas pela administração anterior. Muitíssimo preocupante são as ações tomadas pela atual Administração, que irão comprometer gravemente o planejamento para as próximas gestões.

Pergunto: Com este aumento de arrecadação, o que a Presidência e seus diretores fizeram em obras e no aumento do patrimônio do Clube, recuperado e ampliado nos últimos 10 anos?

A grande questão é que toda a euforia e alarde que fazem no aumento da receita não estão acompanhados das devidas explicações e razões que elevaram tais valores.

O quadro associativo santista pode estar sendo iludido porque, na verdade, o propalado aumento da arrecadação inclui também antecipações de cotas de televisão, como do Campeonato Paulista, quando a Federação Paulista de Futebol antecipou cotas de 2011 a 2015 (isso mesmo, até 2015!), na ordem de R$17.433 milhões, cobrando juros e correções, comprometendo recursos que viriam líquidos aos cofres alvinegros. Isso foi noticiado na imprensa sem a devida atenção do associado.

Somado a este atentado contra as futuras arrecadações do clube, tiveram as vendas dos atletas André, pela simples bagatela de R$ 8.800 milhões, muito inferiores ao que o nosso atacante vale no mercado, assim como o atleta Wesley, negociado apenas por R$7.735 milhões, cujas vendas infuenciaram na campanha do Brasileirão/2010, quando poderíamos ter lutado até o final pela inédita tríplice coroa.

Tiveram ainda acrescentadas como receitas no Balanço Patrimonial as negociatas, na calada da noite, de percentuais dos consagrados craques Neymar e Arouca, que juntos foram servidos a conselheiros e diretores – que formam o grupo de "filantropos" que se intitulam TEISA - por pouco mais de R$5.300 milhões (isso mesmo, os dois juntos por apenas este inexpressivo valor!).

Mesmo negociando nossos principais atletas do plantel, nosso resultado financeiro foi péssimo, provando que foram mal vendidos.

Isso sem falarmos na falta de habilidade em manter promessas que perdemos sem receber um único tostão, como o meia Nikão, um dos destaques do time vice-campeão da Copa São Paulo de 2010 que foi embora e foi o destaque no Campeonato Baiano pelo Vitória em 2011; e a promessa Jean Carlos Chera,que foi para a Itália jogar no Gênoa. Temo pelo futuro de nossa Usina de Craques do Peixe com esse tipo de perdas.

Como gostam de fazer comparações e divulgar valores financeiros de Balanços, vamos ao que interessa:

Comparativos do Balanço de 2009 e 2010
Total do Ativo Circulante:

2009 - R$19.050 milhões; 2010 - R$25.068 milhões; 2011 - R$46.237 milhões (trimestral).

Total do Passivo Circulante:
2009 - R$105.389 milhões;2010 - R$109.299 milhões; 2011 - R$132.042 milhões (trimestral).

Passivo - 2009 - R$104.952 milhões; 2010 - R$146.365 milhões; 2011 -R$172.077 milhões (trimestral).

Diversos estudos de especialistas econômicos de grande renome provaram que, a partir de 2009,os clubes de futebol tiveram um aumento de arrecadação, devido a alguns fatores vieram a incrementar o mercado de patrocínio das camisas dos clubes de futebol. O primeiro foi com relação aos efeitos da crise econômica mundial, que se não acabou, pelo menos as empresas se mostraram com mais poder e vontade de investir. Outros fatores de mudança foram a colocação de propaganda em novos espaços do uniforme, aumentando os ganhos dos clubes, e o aumento do valor pago pelas Tvs. Isso não se passou só com o Santos FC. O cenário do mundo do futebol sofreu alterações a partir desse ano.

Na revolucionária geração Robinho e Diego, que encantou o Brasil e resgatou a auto-estima e o orgulho do torcedor santista, nossas receitas cresceram como demonstramos: Receita 2003 - R$32.778 milhões; 2004 - R$69.516 milhões; 2005 - R$135.434 milhões.
 Queremos destacar que é normal as receitas crescerem nestes períodos de vitórias, títulos e novas gerações como Neymar e Paulo Henrique.

Inclusive que cifras muito maiores quando da venda de um dos dois craques. Tudo foi planejado e programado profissionalmente bem lá atrás, para que formássemos e continuássemos sendo o principal clube brasileiro da década, para que sejamos o melhor do século 21!

Em 2011, mais vendas após o título da Libertadores, como a de Danilo por mais de R$ 30 milhões, curiosamente o mesmo valor que eles pedem para antecipar de 2012. E o desmanche não para por aí. Venda do Alan Patrick, o substituto natural do Ganso, por R$13,7 milhões; venda do Alex Sandro, substituto natural do Léo, por R$ 21 milhões. Mais: venda de Jonathan, por mais R$ 11,3 milhões, sendo que grande parte foram para a TEISA, composta por santistas que "amam" o Santos FC e "não visam lucro", a famosa "Governança Corporativa"! Não podemos esquecer do Zé Love, vendido por cerca de R$6.000 milhões no início do ano.

Ainda assim, a atual Direção solicita mais antecipações de Receitas futuras, agora na ordem de R$30.000 milhões!!! Se vendem tantos atletas, por quê antecipar cotas? Para quais "parceiros" estão indo os lucros destas vendas, além dos cofres do Clube? Estes valores acima divulgados, não são suficientes para manter as altas despesas administrativas atuais?

O resultado operacional divulgado pela diretoria neste primeiro trimestre de 2011 é assustador, apresenta um déficit de R$422.609 mil, acumulando no período um resultado negativo de R$4.343.158 milhões, em apenas três meses do segundo ano de administração.

Caberá aos atuais dirigentes a responsabilidade de investir corretamente no aumento de nosso patrimônio, melhorando ainda mais a nossa invejável estrutura, além de terem a capacidade, inteligência e competência em criar, formar e lançar novos craques de nossa Fábrica de Talentos, nos mesmos níveis de Robinho, Diego, Fabio Costa, Elano, Renato, Alex, André Luiz, Alan Patrick, Rafael, Neymar, Paulo Henrique, entre outros.

Se Deus quiser, nós estaremos acompanhando vigilantes e cobrando para que tenhamos profissionais que consigam manter as revelações e renovações santistas para o futebol brasileiro.

Caberá aos atuais conselheiros, que podem ser cúmplices deste gravíssimo momento, pois analisarão o pedido de antecipação de receitas da ordem de R$ 30 milhões, que reflitam sobre a situação financeira de nossa instituição, que atentem, especialmente, a esse alerta dos membros da Comissão Fiscal, no anexo II do parecer das contas de 2010: "Folha de Pagamento Administrativa- Sugerimos que, em relação a este item, a diretoria executiva faça uma reavaliação dos valores atuais de sua folha, em relação aos praticados no mercado". Este sim, é um dos verdadeiros motivos da antecipação de receitas!

* Marcelo Teixeira é ex-presidente Santos FC