quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Terra semeada produz bons frutos

Duas horas da manhã. Neste início de manhã de quinta-feira (5) úmida, chuvosa, fria, a temperatura do meu corpo estava quente. Meu coração batia mais forte, apesar do avançar da hora e de ter que acordar cedo. O sono não vinha com toda a emoção que sentia. Minha inquietação resultava do sentimento de dever cumprido, do saldo positivo de uma administração de 10 anos, com tantos títulos e que deixou frutos maduros nesta nova colheita.

Em sua brilhante crônica televisa, Marcelo Barreto (foto) poetizou: "Quando a camisa branca se suja de lama é porque o branco já tomou conta do País!". Nesta final, assistimos um time lutador, que manchou de barro nosso manto branco, símbolo da paz, devido à superação e entrega na grama ausente do Estádio Barradão.

Resistia ao choro emocionado, mas não consegui evitar as lágrimas que brotaram dos meus olhos, lembrando num relance de todos os momentos de minha gestão, do início difícil e complicado, da falta de estrutura, de perspectivas futuras que assegurassem títulos e progresso ao nosso clube. Diante do descrédito, das desilusões de anos sem conquistas, das exigências e das pressões de milhões de torcedores que confiaram à nossa Administração a tarefa de reconduzir o Santos FC às vitórias, nunca deixamos de acreditar. Vivíamos, de fato, graves crises financeiras, da qualidade técnica das equipes, do patrimônio dilapidado e destruído pelo passar do tempo. Um leão adormecido, uma baleia se sentindo menor que um pequeno peixe, gerações de torcedores frustradas diante de inúmeros fracassos.

Em todas as minhas gestões à frente do clube sempre investi e acompanhei de perto as categorias de base. Também sempre procurei me cercar de companheiros que fizeram a história do Santos dentro de campo. Pensava, quem melhor que eles para identificar o talento futebolístico de jovens promessas? Por isso, sempre procurei ter ao meu lado craques como Zito (foto), Norberto, Clodoaldo, Lima, Formiga, Abel, Serginho Chulapa, Narciso, Lino, Paulo Robson, Flavinho, entre outros. Muitas vezes, era criticado por manter esses craques atuando no clube. Diziam que era assistencialismo. Eu nunca duvidei de que só formaríamos craques com o apoio destes craques e a história provou que estava certo.

Eles ajudaram, cada um a seu modo, a formar Robinho, Neymar, Ganso (foto), Rafael, Wesley, André, entre todos os jogadores que começaram na base e que fazem parte do elenco campeão da Copa do Brasil. Do time titular da final de ontem, apenas três jogadores não estavam no clube na gestão anterior. Esse quadro é muito diferente de quando assumimos em 2000, com um elenco de apenas 13 jogadores e a falta de estrutura física e de pessoal.

Recuperamos a essência do futebol brasileiro, que é a arte do drible e a busca freqüente pelo gol, algo que está se tornando rotineiro na história do clube. O Santos está acostumado e é um grande exemplo mundial de formador de gerações vencedoras do futebol brasileiro. Foi assim no final da década de 50, quando o Peixe criou essa vocação ofensiva com Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. Em 1978 também foi igual, quando surgiu a primeira geração de Meninos da Vila, com Nilton Batata, Juari, Ailton Lira (foto) e João Paulo, que infernizavam defesas. A de 2002 repetiu a dose, recuperando o DNA ofensivo do futebol nacional, com o time conduzido pelo Emerson Leão, que contou com Renato, Elano, Alberto, Diego, Robinho e outros, um período mágico que durou de 2002 a 2005, com o bicampeonato brasileiro e o vice da Libertadores. E agora, com o raio caindo outra vez na Vila Belmiro, conseguimos construir um time que está encantando os brasileiros e o mundo, com comentários positivos de craques de diversos países, como Messi, Beckenbauer, Henry e outros, com um novo time ofensivo e campeão.

É indescritível a emoção que é ver o coração do santista vibrar de felicidade neste novo século, algo que era muito difícil no século anterior.

Como dizia o Gigante Modesto Roma (foto): "Os homens passam e o Santos continua..."!

Não me arrependo dos 10 anos de minha vida que dediquei ao Alvinegro Praiano, porque nosso clube se reergueu, proporcionando a retomada da auto-estima e o orgulho do torcedor santista, que invadiu Salvador para vibrar com esta inédita conquista em nossa já extensa galeria de troféus.

Hoje é possível constatar que valeu à pena meu esforço para manter André (foto), Madson, Pará, Léo, Paulo Henrique, Felipe, Neymar, Breitner, Alan Patrick, além de recuperar Edu Dracena e Rafael de graves contusões em nosso CEPRAF, centro de referência em recuperação de atletas criado e mobiliado em nossa Administração, que honram o associado e torcedor santista.

Todo santista tem participação neste título. Parabéns aos três mil torcedores que estavam em Salvador e aplaudiram o time em baixo de chuva, da mesma forma que os mais de 10 milhões de santistas espalhados ao redor do mundo também são responsáveis por esta vitória.

Cumprimentos a atual diretoria, no clube há pouco mais de sete meses, que também tem seus méritos nestas conquistas. E feliz ao ver o presidente Luiz Álvaro informar que o Santos tem mais duas safras de Meninos da Vila, confirmando que deixamos uma excelente base para manter o futebol brilhante do clube por muitos anos.

Alguns ainda insistem em dizer que deixamos no Santos uma terra arrasada, sem patrimônio e com dívidas.Hoje está provado que foi uma herança de plantação fértil, de muito trabalho, que agora requer cuidados na manutenção destes frutos atuais, para que não haja prejuízo no planejamento para as futuras competições.

Desejo também que a atual diretoria tenha a capacidade e a competência de apenas manter a mesma filosofia, comprovadamente de total sucesso, para garantir a revelação de novos craques que virão por aí, como Tiago Alves (foto), Felipe Anderson, Jean Chera, Gabriel, Elivelton, Christian, entre tantos outros fantásticos meninos que, por certo, aparecerão rapidamente no time principal. É dever desta administração finalizar a formação destes garotos. Espero que essa administração se preocupe também em formar novas pérolas, para produzir novas gerações de Meninos da Vila.

Parabéns ao competente e corajoso técnico Dorival Junior (foto), toda a atuante comissão técnica, os funcionários- dos mais humildes aos conselheiros- que trabalharam por este título e pelo retorno à Copa Libertadores de América, uma participação que virou rotina neste novo milênio. Afinal, o Santos é uma das equipes brasileiras que mais participou nestes últimos anos, como em 2003, 2004, 2005, 2007, 2008 e agora em 2011!

Agradeço a todos as mensagens e e-mails que recebi parabenizando pela conquista a Copa do Brasil, compartilho e divido com todos que fizeram e continuam a escrever mais uma página vitoriosa na história do Santos FC e do futebol brasileiro.

Parabéns a todos os santistas.

ASSISTA AQUI A CRÔNICA DE MARCELO BARRETO NO SPORTV NEWS


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